Comitiva Boi Soberano |
VIAGEM A SÃO VICENTE
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A
idéia de realizar a cavalgada em mulas até São Vicente foi do cinegrafista Sérgio
Antônio dos Santos, de São José do Rio Preto, com o objetivo de participar
das festividades comemorativas dos 500 anos do descobrimento do Brasil,
mostrando o valor do homem simples, porém valente e empreendedor, que habita o
interior e aqui construiu uma das mais pujantes economias do país.
O tanabiense Milton Ferreira Caires logo se entusiasmou com a idéia e convidou Aguinaldo José de Góes, o signatário, também morador em Tanabi, o qual, de início, hesitou ante a magnitude da empreitada, porém logo depois também se empolgou com a idéia, vislumbrando a oportunidade de participar de uma aventura e fazer algo em prol das nossas melhores tradições rurais e valorizar as manifestações culturais do homem do campo, como as modas de viola, a dança do catira, as Festas de São João e as Folias de Reis, hoje relegadas a inadmissível plano inferior, sufocadas pela desmedida invasão da cultura rural norte-americana, num processo que, se não for contido, acabará por nos roubar a identidade cultural e, de resto, o amor-próprio e a auto-estima, destruindo até mesmo o nosso ideal de nação.
A este grupo juntou-se o nosso amigo João Roberto de Oliveira, morador no Bairro Rural da Ponte Nova, em Bálsamo, e iniciou-se, já no mês de abril de 1.999, um criterioso planejamento que permitisse a realização da cavalgada.
Posteriormente, recebemos também inestimável apoio do tanabiense, hoje radicado em Campinas, Aparecido Donizete Donaire, que se revelou um grande amigo e companheiro de jornada.
De
início, pensou-se numa comitiva de cem a cento e cinqüenta cavaleiros, ou
muladeiros, para sermos mais precisos, porém tal número de pessoas, e seus
respectivos animais, exigiria uma infra-estrutura de apoio muito grande e,
conseqüentemente, dispendiosa, o que reclamaria patrocínio de
vulto. Ocorre,
todavia, que o patrocínio implicaria numa interferência do patrocinador na
organização da comitiva, no trajeto a ser percorrido, na indumentária dos
muladeiros e até nas tralhas de arreio, comprometendo de maneira inaceitável a
filosofia do nosso empreendimento. Por isso, resolvemos que nós mesmos bancaríamos
a cavalgada, com menos integrantes, cerca de vinte, e assim fizemos.
Todos
os animais foram ferrados, com ferraduras especialmente confeccionadas para a
viagem na cidade de Indaiatuba, ficando esse trabalho a cargo do profissional
Eurípedes César Rodrigues, o “Liu”, da cidade de Colina, do nosso amigo
Jorge Luiz Pascon, tradicional muladeiro da cidade de Jaborandi, e do nosso
companheiro de viagem Ermano de Lima Gomes, o “Pardinho”, da cidade de
Ibiporanga. Os animais foram submetidos a exame de sangue, constatando-se em
todos a ausência de anemia infecciosa eqüina.
Os integrantes da comitiva procuraram trajar-se de acordo com os nossos
costumes e tradições genuínas, o que foi observado também no arreamento das
mulas e burros, com suas tralhas repletas de argolas reluzentes, no melhor
estilo campeiro. Não faltaram as capas “Ideal”, os porta-capas de vaqueta e
os laços de couro na garupa. E, para completar, o cargueiro do Sr. José
Batista de Souza, o “Seo Zé Pequeno”, com suas bruacas, o cavalo-madrinha
com seu polaco, e o berrante, executado com maestria pelo companheiro Ylio
Lopes.
Na comitiva não poderia faltar uma viola, para alegrar a viagem com seus
ponteios, falando direto da alma do violeiro para o coração dos companheiros
de jornada. E esse violeiro não poderia ser outro, se não Nilson Freitas Assunção,
o “Neno Carrero”, artista tanabiense de grande talento e sensibilidade, que
encantou a todos em todos os lugares por onde passamos.
Inicialmente,
calculamos o trajeto em cerca de 725 quilômetros, baseando-nos em mapas, porém
na realidade percorremos aproximadamente 850 quilômetros em 18 dias, sendo que
paramos um dia para descansar a tropa, de sorte que a viagem durou 19 dias.
Partimos do Bairro Rural da Ponte Nova, localizado entre Tanabi e Bálsamo,
no dia 31 de março. Passamos por Bálsamo, Mirassol, Bady Bassitt, Potirendaba,
Urupês, Marapoama, Itajobi, Itápolis, Ibitinga, Itaju, Bariri, Jaú, Barra
Bonita, Igaraçu do Tietê, São Manuel, Botucatu, Conchas, Laranjal Paulista,
Jumirim, Tietê, Porto Feliz, Sorocaba, Votorantim, Piedade, Tapiraí, Miracatu,
Pedro de Toledo, Itariri, Peruíbe, Itanhaém, Suarão, Mongaguá, Praia Grande
e chegamos, no dia 18 de abril, em São Vicente.
Em todos os lugares por onde passamos fomos muito bem recebidos,
literalmente com festas, sendo que em algumas cidades fomos recepcionados por
comitivas de cavaleiros que iam ao nosso encontro e nos conduziam pelas ruas
principais. Em outras, até as crianças eram dispensadas da escola para nos ver
passar, com os peões, a tropa solta, o cargueiro e o berranteiro, para matar a
saudade dos mais velhos e ensinar aos mais jovens como eram a vida e os costumes
dos nossos antepassados.
Quando explicávamos os objetivos da viagem, dentre os quais o de
recordar e valorizar os nossos costumes e tradições e prestigiar as manifestações
culturais do homem do campo, as pessoas se entusiasmavam e nos davam total
apoio, exortando-nos a continuar.
Recebemos inúmeras manifestações de apreço quando pernoitamos na cidade de Sorocaba, inclusive um documento expedido pela Câmara Municipal com votos de congratulações aos integrantes de nossa comitiva. Aquela cidade é conhecida como a capital do tropeirismo, havendo um museu e uma estátua dedicados ao tema, sendo que a tradição tropeira ali remonta ao século XVIII. O presidente da Associação dos Tropeiros de Sorocaba e demais membros daquela entidade foram nos visitar, dando-nos as boas vindas.
Todavia, a homenagem que mais nos emocionou foi proporcionada por um coral da cidade de Sorocaba, que cantou para nós as mais belas páginas do cancioneiro caipira, num clima de profunda comoção.
Nesta viagem alternavam-se momentos de dificuldades, por causa das
estradas atuais, pavimentadas e feitas somente para veículos automotores, e
momentos de rara beleza, como quando descemos a serra entre Tapiraí e Miracatu,
passando por dentro do que restou da Mata Atlântica, vendo paisagens
exuberantes, com florestas e córregos de água cristalina descendo as encostas.
No
dia seguinte, para cortar caminho, passamos por uma picada aberta dentro da mata
a facão por dois habitantes locais, numa estrada antiga que fora retomada pela
vegetação. Esse foi também um grande momento da nossa viagem.
Bem, finalmente chegamos à cidade litorânea de Peruíbe, e daí em
diante fomos até o final da viagem beirando a praia, valendo ressaltar que
alguns dos integrantes da comitiva jamais tinham visto o mar, o que acrescentou
mais um componente emocional à nossa viagem.
No dia 18 de abril chegamos a São Vicente, fomos recebidos com festas e,
após atravessar a ponte pênsil, sempre levando à frente o pavilhão nacional,
desfilamos pela avenida beirando a praia e depois paramos diante da prefeitura,
onde o alcaide nos cumprimentou e recepcionou oficialmente. Ali, para emoção
dos presentes, nosso berranteiro, Sr. Ylio Lopes, executou um trecho do hino
nacional. Em seguida, deixamos a tropa alojada no Jockey Clube e fomos nos
hospedar no hotel “Palladium Belvedere”, reservado pela prefeitura para
acomodar os convidados oficiais da festa, inclusive uma delegação de
intelectuais portugueses que veio participar de congressos alusivos ao evento.
Infelizmente, não pudemos ficar até o dia 22, pois o local destinado à
tropa era totalmente inadequado, o que nos obrigaria a ficar ali todo o tempo
vigiando os animais, impedindo-nos de aproveitar a estada naquela agradável
cidade, de sorte que a maioria dos integrantes da comitiva resolveu vir embora.
Todavia, nossa missão já fora cumprida com êxito na medida em que
chegamos ao final da viagem, toda ela feita no lombo das mulas, com o que
homenageamos a memória de nossos antepassados, relembramos as nossas melhores
tradições campeiras, valorizamos a nossa música raiz e mostramos o valor do
homem do interior, que ajudou a construir este país e tem consciência de que
muito ainda há para construir.
Finalmente, gostaríamos de ressaltar que nossa viagem recebeu ampla cobertura da imprensa desde a saída até a chegada, sendo que durante todo o trajeto concedemos inúmeras entrevistas para emissoras de rádio e televisão, bem como para jornais, conforme gravações em áudio e vídeo em nosso poder, além de recortes de jornal.
R E S U M O
CAVALGADA
DE MUARES
31 de março a 18 de abril do ano 2.000
Origem: Bairro da Ponte Nova (entre Tanabi e Bálsamo-SP)
Destino: São Vicente-SP
OBJETIVOS
– Participar de uma aventura à moda dos nossos antepassados, revivendo os costumes da época do “transporte elegante das boiadas”.
– Valorizar as nossas tradições campeiras, prestigiando a figura do peão de boiadeiro e as manifestações culturais do nosso homem do campo, como as modas de viola, a dança do catira, as Folias de Reis e as Festas de São João, porém as autênticas e não estas em que pessoas da cidade se fantasiam de “Jeca Tatu”, simulando falhas nos dentes, usando roupas remendadas, chapéus amarfanhados e andando de modo desengonçado, assim ridicularizando a figura do caipira.
– Reagir contra essa tendência de americanizar a nossa cultura rural. Chega de “cow-boys” e “estilo country”, desde a indumentária até a música; se temos as nossas tradições, que aliás são ricas e belas, e nossos valores culturais não precisamos importar e copiar os dos americanos.
– Tomar parte nas comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil, mostrando que, apesar dos graves problemas que nos afligem, aos quais não estamos alheios, gostamos de viver aqui e fazer parte do povo brasileiro.
TRAJETO
PERCORRIDO
(
cerca de 850 quilômetros em 18 dias )
(
média de 47 quilômetros por dia )
Bairro da Ponte Nova (entre Tanabi e Bálsamo)
Bálsamo
Mirassol
Bady Bassitt
Potirendaba
Urupês
Marapoama
Itajobi
Itápolis
Ibitinga
Itaju
Bariri
Jaú
Barra Bonita
Igaraçu do Tietê
São Manuel
Botucatu
Conchas
Laranjal Paulista
Jumirim
Tietê
Porto Feliz
Sorocaba
Votorantim
Piedade
Tapiraí
Miracatu
Pedro de Toledo
Itariri
Peruíbe
Itanhaém
Suarão
Mongaguá
Praia Grande
São Vicente
Tanabi, 27 de abril de 2.000.
Aguinaldo José de Góes
( um dos organizadores )
E-Mail ajgoes@riopreto.com.br
RELAÇÃO
DOS PARTICIPANTES
(em ordem alfabética)
1. Adhemar Izidoro Pereira Filho
mecânico
Rua Agnelo de Oliveira, nº 931, Jardim das Oliveiras, S.J. do Rio Preto-SP
fones: (17) 236-3132 – 9772-3464 – 224-6400
2. Aguinaldo José de Góes
Promotor de Justiça aposentado
Rua Dr. Cunha Júnior, nº 177,Centro, Tanabi-SP,
fones: (17) 3272-1109 e 9772-8625
3. Alessandro Domingues Monteiro
adestrador de cavalos
Chácara São Sebastião, Jataí de Baixo, Tanabi-SP
fones: (17) _______________
4. Angenor Castro Geralde
metalúrgico aposentado
Rua José Florenciano dos Santos, nº 104, Vila União, Campinas-SP
fone (19) 269-7761
5. Aparecido Donizete Donaire
comerciante
Estância Itamarati, estrada Tanabi/Ibiporanga, KM ___
Rua Jacitaba, nº 536, Vila Aeroporto, Campinas-SP
fones: (19) 266-6182 – 9771-1065 – 736-1510 – fax: 736-1516
6. Benedito Cândido de Oliveira (“Tico-Tico”)
cozinheiro
Rua ____________________________, nº ______, Jaci-SP
fone (17) ______________
7. Bird Sereno Ricieri
bancário
Rua Cel. Joaquim da Cunha, nº 222, Centro, Tanabi-SP,
fones: (17) 3274-2690
8. Edson Castro de Oliveira (“Tédi”)
auxiliar de granja
Rua Ivone M. de Andrade, nº 9, Jardim Centenário, Tanabi-SP
fones: (17) ____________
9. Ermano de Lima Gomes (“Pardinho”)
ferrador
Rua México, nº 120, Centro, Ibiporanga-SP,
fones: (17) 3274-8159 e 974-3110
10. Gersi Pivaro
comerciante
Rua Marechal Deodoro, nº 60, Centro, Tanabi-SP
fones (17) 3272-1674 e 274-2436
11. Ílio Lopes (“William”)
peão de boiadeiro aposentado
Rua Profª Zulmira Sales, nº 780, Parque Industrial, S. J. do Rio Preto-SP,
fones: 3212-3523
12. João Carlos Coiado Santiago
motorista
Rua Gabriel Ribeiro dos Santos, nº 750, Bairro Centro, Potirendaba-SP
fones: (17) 249-1039
13. João Divino do Prado (“Ferreirinha”)
amansador de animais
Rua Eduardo Alves Ferreira, nº 25, Bairro ____________, Tanabi-SP
fones: (17) _____________
14. João Roberto de Oliveira
capataz de fazenda
Fazenda Bom Retiro, Bairro da Ponte Nova, Bálsamo-SP
fones: (17) __________
15. Jorge Aparecido de Souza (“Jorge Pequeno”)
agropecuarista
Rua Profª Zulmira Sales, nº 790, Parque Industrial, S.J.do Rio Preto-SP,
fones: (17) 212-2354
16. José Batista de Souza (“Zé Pequeno”)
agropecuarista
Sítio Coqueiro, Bairro Coqueiro, Mirassolândia-SP
fones: (17) 212-2354 (recados)
17. José Cássio Mendes
agropecuarista
Rua São Paulo, nº 28, Centro, Jaci-SP
fones: 283-1119 e 9701-6284
18. Leonildo Volpato (“Pedro de Lara” – “Pirilampo”)
mecânico
Rua dos Gerânios, nº 761, Jaci-SP
fone (17) 283-1261 (recado)
19. Luís Carlos Pereira da Silva (“Alemão”)
mecânico de motos
Rua Encarnação Moreno Versuti, nº 30, Jardim Centenário, Tanabi-SP
fones: (17) 974-3367
20. Luiz Mendonça Filho (“Seo Madruga”)
motorista
Rua Arlindo Biazi, nº 520, Bairro S. José Operário, São José do Rio Preto-SP
fone (17) 3234-7245 e 9609-7671
21. Manoel Messias Pereira (“Manezão”)
operador de máquinas
Rua Dr. Cunha Júnior, nº 130, Centro, Tanabi-SP
fones: (17) ___________
22. Marcelo Joaquim de Souza
peão
Rua Francisco Marcos Vian, nº 585, Centro, Bálsamo-SP
fones: (17) ____________
23. Mauri Antônio de Andrade
assessor parlamentar
Rua Um, nº 41, Jardim Marajó, Campinas-SP
fone (19) 266-0536
24. Milton Ferreira Caires
agropecuarista
Rua Cel. Joaquim da Cunha, nº480, Centro, Tanabi-SP
fones: (17) 3272-1495 e 991-8641
25. Milton Silveira Perches
agropecuarista
Rua Jorge Tabacchi, nº 338, Centro, Tanabi-SP
fones (17) 3272-1272
26. Nildo Alves da Costa
amansador de animais
Estância Cruzeiro, Bairro Vila Thomaz, Tanabi-SP
fones: (17) ___________
27. Nilson Freitas Assunção (“Neno Carrero”)
violeiro
Rua Marcílio Magalhães, nº 535, Bairro Centro, Tanabi-SP
fones: (17) 9728-2723
28. Pascoal Aparecido Galo (“Cóca”)
agropecuarista
Fazenda Tupinambá, Mirassolândia-SP
fones: (17) 973-9170 – 263-1327 – 263-1265
29. Paulo Pereira dos Santos
funcionário público municipal aposentado
Rua Jacob Violin, nº 436, fundos, Bairro Centro, Tanabi-SP
fones: (17) 274-2463
30. Ronaldo Joaquim de Souza
metalúrgico
Sítio São José, Mirassolândia-SP
fone: (17) ____________
31. Sérgio Antônio dos Santos
cinegrafista
Rua Achiles Benfatti, nº 141, Bairro Ipiranga, São José do Rio Preto-SP
fones: (17) 225-4936 e 991-2106
FROTA
DE APOIO
Uma caminhonete (veículo precursor)
Um automóvel (veículo auxiliar)
Um caminhão-baú (bagagens, tralha e água para os animais)
Um caminhão-baú (cozinha, bagagens)
Um caminhão gaiola (ração, feno, tralha e animais de reserva)
Um caminhão gaiola (ração, feno, tralha e animais de reserva).
Tanabi, 27 de abril de 2.000.
Aguinaldo José de Góes
( um dos organizadores )
E-Mail
ajgoes54@uol.com.br